setembro 30, 2005

não!

Poeta Castrado, Não!

Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.

Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:

Da fome já não se fala
--- é tão vulgar que nos cansa ---
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?

Do frio não reza a história
--- a morte é branda e letal ---
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?

E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
--- Um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
--- Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia!

Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!


Ary,
outro (Des)obstinado por excelência

setembro 28, 2005

e outros contos


"Defendo este reduto. É o meu quadrado. Talvez não tenha sentido, estar aqui a defendê-lo, mas se o perdesse eu próprio me perderia. O único sentido, que talvez não tenha grande sentido é defender este quadrado."


M.A.
Outro grande (Des)obstinado.


setembro 25, 2005

Castanho é uma cor bonita

Cá estou, amiga criança, cá estou.

Porque a promessa deve ser cumprida e não se deve deixar a infância cansada, de pé, à espera...
Chocolate. Chocolate.... Chocolate é isso. Falta-me o Chocolate agora. Se assim não fosse, não te fazia esperar mais.

(Mas sim, ainda me lembro do Chocolate. Sei que é castanhamente tempestuoso. E é bom quando se derrete debaixo da língua e a seguir foge desse subterfúgio e se cola no céu-da-boca. O Chocolate é uma estrela. cadente. E ela lá fica, castanha e linda, no céu, até fugir; não sabemos para onde. Deve ser como a chuva que se entranha na terra e fica castanha também. Ou só uma estrela cadente que faz lembrar coisas raras. Como um sorriso. Ou o beijinho. Dois beijinhos.
Se chovesse chocolate o mundo era bonito como uma estrela. Ou então bastava chover chuva castanha e todos ficavam mais bonitos.)

»A Escritora

outra partilha de última hora.

Coisas Invisíveis é um blog extremamente apaixonado. Por enquanto parece que também os posts são invisíveis, mas espero que vá sendo lentamente actualizado assim que «A Escritora» e «A Vassoura» se deixem de mariquices, e voltem a escrever.

«O Fotógrafo»

grande idiota

Estando «A Escritora» em fase de crise existencial, tenho-me refugiado no Tatarana , e encontrei lá isto, que convosco partilho. Não censuro partilhas e isto tem forçosamente de ser partilhado - O Grande Idiota ao Entardecer.


«O fotógrafo»

setembro 22, 2005

obstinações ou (des)obstinações?

Hoje choveram sapos. Ontem até um homem choveu. Mal posso esperar pelo amanhã. Vais chover?

setembro 21, 2005

(en)Fim

Fim

"Quando eu morrer batam em latas
Rompam aos berros e aos pinotes -
Façam estalar no ar chicotes
Chamem palhaços e acrobatas.

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à Andaluza:
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro..."


Mário de Sá Carneiro

Para o ex-fulano do 4º esquerdo do nº18, que hoje pôs termo à vida. Era um Obstinado de primeira, ao que parece. Coitado.

«O fotógrafo»

setembro 20, 2005

22:43

Hoje, dia 20 de Setembro, pelas 22:43, o rolo voltou a avançar outra vez. E o Moleskine também.

setembro 19, 2005

No Quarteto não há lugares marcados.

"O Fotógrafo"

setembro 17, 2005

Vazio

«"na terra dos sonhos podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal!"
conheces isto obviamente.»
«se conheço, não estou a associar neste momento.
Sinto-me... vazia.»
»A Escritora

setembro 13, 2005

Peço perdão aos poucos que aqui passam, por esta última vaga de palavras. Não pretendo monopolizar o que aqui se edita. Nem pensar. Nem seria capaz, pois há aqui quem consiga fazê-lo bem mais facilmente, com meia dúzia de palavras bem escolhidas. A verdade é que não tenho muito que fazer, e decidi procurar num antigo dicionário poeirento, o significado de umas tantas coisas. Desde o principio, que o titulo deste outro reduto me faz pensar, que não me encaixo aqui bem. De todos os que alguma vez aqui escreverão, sou talvez, o mais obstinado de todos, apesar de nenhum deles ser perfeito, e todos terem dentro de si um nadinha de obstinação, seja pelas teclas de um piano, ou pelos cabelos compridos de alguém. O tal que poderia ser, sem dúvida, o verdadeiro (Des)obstinado, ainda se pensa que seja um simples cão que se ri de nós, "No riso admirável de quem sabe e gosta, ter lavados muitos dentes brancos à mostra." . Mas acho que de todos, sou o que menos encaixa no espirito da verdadeira e épica (Des)obstinação. A nossa. Não o Nirvana de uns, a paz de outros, ou o céu de outros tantos. Meus caros amigos: procuramos a (Des)obstinação absoluta e incontrolada, esperamos todos por ela como se não pudéssemos esperar mais. Ou seja, há basbaques, eminentes basbaques. E finalmente, há (Des)obstinados, e eminentes (Des)obstinados. Após longa e imprevisível conversa hoje tida, penso que de todos sou o que mais trai o que aqui se procura. Cedi à Obstinação demasiado cedo. Tornou-se um estado de espírito, ou mesmo de vida. Céus, gostava que a minha escrita chorada fosse tão boa como a d' "A Escritora" que a esta hora dorme, tal como "A Pianista", tal como o "Cão". Não sou afinal, nada mais que um Obstinado, ou na forma maricas de o dizer, um Des(des)obstinado. De um obstinado a sério, que trai, mas pede compreensão, que não desiste, não se permite, não lhe permite.






"Tua divisa deve ser: amar mais do que és amado e nunca ficar em segundo lugar." F.N.


"O Fotógrafo"

setembro 12, 2005

Lembrei-me

Lembrei-me de alguém que vocês adorariam ver a escrever aqui. Lamentavelmente, para vocês ele é só um cão. Ao menos que seja o "Cão", que, arrisco dizer, não é como nós, é melhor que nós.

"O Fotógrafo"

Memorabilidade

Partilho aqui a minha frustração, contigo, muito provavelmente o único leitor que (Des)obstinadamente, lê este blog, e com vocês, que ainda mais (Des)obstinadamente, vieram parar a este blog por engano. É frustrante pensar que a criatividade humana possa estar condicionada por um simples estado de espirito, ou por uma mais simples conversa também ela frustrada. Somos levados a pedir desesperadamente por um laivo de criatividade, vindo da mente de terceiros. Qualquer coisa. E claro que como pessimista militante, averiguei que neste momento é de noite, e por sinal o rolo que tenho na máquina é lento, e não posso tirar fotografias. Aventurei-me portanto no campo da "Escritora", com frustração acrescida. E a pianista nunca mais chega, e o dia foi péssimo. Com o seu talento de nos alegrar, o cão hoje sentiu-se melhor, e voltou a correr pelo alpendre a tentar abocanhar moscas, e a perseguir o gato intruso. E pensar que bastava um rolo mais rápido, ou Enfim, uma palavra carinhosa.

"O fotógrafo"

setembro 05, 2005

Chocolate

Não tenho quaisquer acrescentos ou acertos a fazer ao texto que aqui transcrevo a seguir. Recebi-o com selo carimbado, morada escrita, um cheirinho a terra... memórias. Fez-me chorar. E num tributo à Pianista e ao "Fotógrafo", aqui fica.

Acorda passarinho. A vida está aí para ser vivida. Voa para bem longe. E vai mandando beijos. Diz olá ao companheiro.
O "Fotógrafo" chateia-me. Não pára de pensar. Sentes orgulho. Ou pelo menos diz que pensa. Já a Pianista, por mais que pense, não se nota... Descobrimos aqui um rapaz lindíssimo de cabelos compridos, que tens de conhecer. Se o virares ao contrário parece uma vassoura! No entanto, penso que lhe falta muito. Sim, tens razão, quem iria olhar para ele? Cara cheia de acne e futuro certo no Jornal "O Crime". Tem um corpinho jeitoso, suscita inveja a muita gente. inteligência não lhe falta muito, o uso sempre podemos duvidar. Faz-nos sentir estúpidos (ainda mais, portanto). Estou a escrever. O "Fotógrafo" diz: 'Não escrevas por escrever! Sinceramente. não consigo. Nem eu! Estou a saborear a angústia e a impossibilidade hipotética. As coisas tornam-se difíceis. Grita de alegria, ela foi-se embora! E a Pianista olha o horizonte, agora pede a caneta.
Cheiro é intenso e os cabelos divinais. Sempre preocupado, vai-se. Não esquece. Lembra-se. O olhar é de alguém um pouco perdido, precisa de mimos. São grandes. Gosta de sorrir.
Como tu. Não sujes o chão, por aqui hão-de passar mais pessoas. As crianças não podem sufocar. E temos de proteger aqueles que estão descalços. Compra-lhes chinelos, mas não lhes tires o olhar perdido. E se chovesse? Dar-se-ia a Aparição de mim a mim mesmo? ou de mim a outra mesma? há que respirar, mas não respirar, apenas. Estás aí? apenas. Ou estás aí? Existes e pensas. Pensas e existes. Não. Sentes. Não. Pensas. A Pianista tem afinal cabelos de ouro. Eu tenhos os meus três cabelos de castanho escuro.
O "Fotógrafo" afinal está descalço. Precisa de uns "all stars", e do seu olhar perdido. A Pianista calça uns, pretos e lindíssimos.
O rapaz chorou. A rapariga dormiu. Ao seu lado? Ao seu lado, no chão. Só eles? Sozinhos, no escuro. Como era ele? Forte, loiro, olhos castanhos, profundos, alto de uma cor verde. Era diferente. Estranho aos que passam. Amigo para os que ficavam. Ela era gelada para os que passam, quente para ele, o que ficou. Nem o apito os separou nessa noite, enquanto os passos das botas os procuravam, apenas o abraço apertava, não o medo. Ficou frio. Os lábios escureceram de um roxo azul. Mas nem isso afrouxou o abraço. Os lábios tocavam-se agora em jeito de primeira inocência, aquele já ninguém lhes tirava. ele rejubilou e ela, também?! Sim. Sentiu de novo. Correu. Correu.
Correram ambos para a água. Agora já não temiam o apito ou o som das botas. Ela esqueceu o sentido de dever exacerbado que a caracterizva, ele rejubilou outra vez ao constatar esse facto. Quanto ao seu sentido de dever e conduta moral, ele sempre foi mais arriscado. Mas agora eram ambos assim. Mergulhavam juntos na água lá ao fundo. Abriu os olhos e quis fugir. Acabava tudo ali. daqui a umas horas. Acordou so sonho. Era mesmo um sonho, não era? Era sim. Sempre mais bonito. Mais vivido. Estava livre. Chorou e olhou o rapaz. Acordavam ambos do mesmo sonho. Choraram pelo mesmo. Mas porquê? Porque o mundo é assim. Estavam lá. Seguem o caminho. E chega ao fim. O fim. Mas para ele, não fica assim.
Pianista e "Fotógrafo"

setembro 01, 2005

o (Des)obstinado?


»o "Fotógrafo"